domingo, 16 de setembro de 2012

CONCEPÇÕES DE DEUS EM DIVERSOS PONTOS DE VISTA FILOSÓFICOS



CONCEPÇÃO DE DEUS EM DIVERSOS PONTOS DE VISTA FILOSÓFICOS



DEUS NO TEÍSMO JUDAICO-CRISTÃO

O Conceito de Deus aqui é pessoal. Deus seria uma pessoa que teria os atributos de onipotência (todo poderoso), onisciência (sabe tudo e sonda todos os corações e pensamentos) e onipresença (ocupa todos os lugares do universo e do espaço).

Esta concepção de Deus foi enunciada nos cinco primeiros livros da Bíblia Sagrada pelo profeta Moisés. Como Moisés era um líder tribal patriarcalista, Deus aqui aparece como um estadista implacável, extremamente autoritário, misógino (basta ver como as mulheres são tratadas na Bíblia), intransigente com os credos de outros povos (basta ver as passagens bíblicas em que Moisés passa pelo fio da espada até crianças e velhos de um vilarejo que não cultua o seu Jeová) e intransigente com os homossexuais masculinos e femininos (basta ver as passagens referentes a destruição de Sodoma e Gomorra), intransigente com práticas espiritualistas que dispersassem o povo judeu ( astrólogos, adivinhos, feiticeiros não herdarão o reino dos céus – vide Deuteronômio).

Deus aqui seria o criador do universo e o universo seria sua propriedade, assim como o mundo natural pertenceria a sua máxima criação: o homem; por isso o homem deveria submeter todos os animais e seres ao seu comando.

O orientalista Allan W. Watts no ensaio Mitologia Ocidental: Dissolução e Transformação no livro MITOS, SONHOS E ÃO Nas artes, na filosofia e na vida contemporânea Organizado por
Joseph Campbell, nos ajuda a entender o real cárater do Deus pessoal ocidental:

"A base do senso comum por trás de grande parte das leis e instituições sociais
dos Estados Unidos é uma teoria do universo fundamentada nas antigas monarquias
despóticas do Oriente Próximo. Na verdade, títulos como "Rei dos Reis" e "Senhor de
todos os Senhores" eram típicos dos imperadores persas. Os faraós do Egito e o
legislador Hammurabi forneceram um modelo de pensamento sobre este mundo. Pois a
idéia fundamental subjacente ao imaginário do livro do Gênesis e, conseqüentemente,
das tradições judaica, islâmica e cristã é a de um universo como um sistema de ordem
imposta de cima pela força espiritual, à qual devemos obediência. Essa idéia comporta o
seguinte complexo de subidéias: Que o mundo físico é um artefato. É algo feito, construído. Ademais, implica
a idéia de que é uma criação em cerâmica.

O livro do gênesis diz que o Senhor Deus criou Adão com barro e, tendo feito o
modelo em argila, soprou o sopro da vida em suas narinas e a figura de argila tornou-se
a incorporação de um espírito vivo. Esta é a imagem básica inserida profundamente no
senso comum da maioria dos povos do mundo ocidental. Assim, é natural que uma
criança educada na cultura ocidental pergunte à mãe: "Como foi que me fizeram?"
Achamos muito lógico perguntar: "Como foi que me fizeram?" Mas acho que uma
criança chinesa não faria essa pergunta. Não ocorreria a ela. A criança chinesa poderia
dizer: “como foi que eu cresci?", mas não "Como foi que me fizeram?” no sentido de ter
sido construído, montado, formado por alguma substância básica, inerte e, portanto,
essencialmente boba. Pois quando tomamos a imagem da argila, não esperamos ver a
argila por si só formando um vaso. A argila é passiva. A argila é homogeneizada. Não
tem uma estrutura especial. É uma espécie de grude. Para assumir uma forma inteligível
precisa ser trabalhada por uma força e uma inteligência externas. Assim, temos a
dicotomia da matéria e da forma, que encontramos em Aristóteles e mais tarde na
filosofia de Santo Tomás de Aquino. A matéria é uma espécie de coisa básica que só
toma forma com a intervenção da energia espiritual. Esta tem sido uma questão básica
para todo o nosso pensamento ― o problema da relação entre matéria e mente."

DEUS NO TEÍSMO NAGÔ-YORUBANO DO SUL DA NIGÉRIA

O conceito de Deus aqui é pessoal. Deus seria o criador do universo e seria o governante máximo ( oni, oba), porém não governaria o universo sozinho.Residiria no seu palácio no Orum ( o além, o céu yorubano) e de lá reuniria de vez em quando os orixás, com os quais divide o reino do universo.Ao contrário do Jeová de Moisés, Olorum tem um temperamento estável, moderado, calmo.Não interfere no destino dos homens, pois criou o mundo (o Ayê) mas desgostoso se retirou dele e foi viver no Orum. Para não deixar os homens desamparados, deixou-os sob proteção dos Orixás. Alguns pesquisadores sustentam a hipótese, de que esse Olorum excessivamente antropormofizado seria influência das religiões monoteístas e patriarcalistas (Cristianismo e Islã) no território Yorubá.

Já Ronaldo Senna e Maria José de Souza – Titã no livro A Remissão de Lúcifer: o resgate e a ressignificação em diferentes contextos afro-brasileiros – Editora UEFS, 2002 apresentam uma versão menos sincrética:

“Oludamaré é a manifestação de tudo o que existe, o universo e todos os seus componentes. A ele nada se pede e não é possível contata-lo. É indecifrável, a pronúncia do seu nome deve ser seguida de uma reverência, tocando-se a terra com os dedos. O espírito primal que sustenta a forma como elemento da criação. Pode ser entendido como o arquétipo ou o repositório de todas as formas que dão configuração à matéria; um símbolo universal da substância” p.84-85

DEUS NO DEÍSMO

Deus aqui aparece apenas como um ser supremo, criador do universo, porém desinteressado com a criação. Um Deus distante e ausente, que tal como um relojoeiro criou o universo como uma máquina autônoma e auto-regulada, que funciona sozinha sem sua constante intervenção. Nesta concepção filosófica não faz sentido o hábito da prece, posto que o universo seja governado por leis fixas, regulares e inexoráveis.

DEUS NO BRAMANISMO

Karen Armstrong no seu livro Em Defesa de Deus: O que a religião realmente significa esclarece como os hindus lidam com o conceito de Deus:

"No século X a.C., alguns árias se instalaram no subcontinente indiano e deram um novo nome à realidade suprema. O brahman era o princípio invisível que permitia o crescimento e o desenvolvimento de todas as coisas. Era um poder mais alto, mais profundo e mais fundamental que os deuses.Como transcendia as limitações da personalidade, podia ser totalmente inadequado rezar para ele ou esperar que atendesse às orações. O brahman era a energia sagrada que unia todos os diversos elementos do mundo e impedia que o cosmos se desintegrasse. Tinha um grau de realidade infinitamente maior que o dos mortais, cuja vida era limitada pela ignorância, pela doença, pelo sofrimento e pela morte.Não se pode defini-lo, porque a linguagem se refere unicamente a seres individuais, e o brahman é "o Todo", é tudo que existe e é o sentido oculto da existência."


DEUS NO BUDISMO

O Budismo é uma religião atéia. É religião apenas no sentido horizontal: religar os homens e não no sentido vertical: religar o homem a Deus - ser este que para o Budismo oriental não existe.Os Budistas são religiosos no sentido que cultuam valores éticos como: compaixão, bondade, não matar nenhum ser vivo, não roubar e não usar drogas ou substâncias que embotem a mente.

DEUS EM SIGMUND FREUD

O Criador da Psicanálise aborda o fenômeno religioso em várias de suas obras. Freud era judeu, porém não religioso.Em O Futuro de uma ilusão ele concebe Deus como uma ilusão, fruto do desejo infantil do ser humano de ver na natureza a projeção de um pai. Na ânsia de se ver desamparado e desprotegido o ser humano teria criado Deus para reconfortá-lo nas horas de perigo e tribulação.

DEUS NO ATEÍSMO DE MIKHAIL BAKUNIN

O anarquista russo - na sua obra Deus e o Estado – extremamente iconoclasta concebe Deus como um tirano, opressor, que se existisse precisaria ser abolido.

DEUS EM MIRCEA ELIADE

Na obra do historiador romeno Mircea Eliade a Religião aparece como o numinoso. O universo seria numinoso ou sagrado.E segundo ele, o espiritualista tende a sacralizar o universo, enquanto o materialista tende a profaná-lo. O filósofo francês Michel Onfray em seu Tratado de Ateologia fornece um esquema interessante para entender a questão. Segundo ele, o materialista afirma: -sou feito de átomos, enquanto o espiritualista afirma: - sou feito de alma

DEUS EM RICHARD DAWKINS

Richard Dawkins, o ilustre biólogo evolucionista, é tido pela crítica como líder do movimento neo-ateísta e é autor da obra Deus, um Delírio – Tradução de Fernanda Ravagnani – São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Na obra de 520 páginas, Dawkins afirma categoricamente que além de Deus não existir, a religião é nociva à humanidade, por ser geradora de guerras, ataques terroristas e outras insustentabilidades.Segundo ele, ninguém precisa de Deus para ter princípios morais, para fazer o bem, para apreciar a natureza.O livro propõe o orgulho ateu, assim como existe o orgulho gay.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Feito originalmente para ser discutido numa oficina de afro-religiosidade este breve estudo não teve a intenção de esgotar o assunto. Reconhece que muitas concepções ficaram de fora como a de Spinoza, a de Marx, a de Nietzsche, de Debord a e a de Jung, entre outros (a lista é quase interminável na história da Filosofia).

A minha concepção atual é de que não há um Deus pessoal, mas há o sagrado, o numinoso. Talvez minha concepção tente juntar elementos dos cultos de matriz afrodescendente com a espiritualidade naturalizada de Robert C. Solomon no seu Espiritualidade para Céticos: Paixão, verdade cósmica e racionalidade no século XXI – Tradução Maria Luiza X. A. Borges – Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
Quem sou eu para provar que Deus existe ou deixa de existir? Que cada um faça suas pesquisas e tire suas conclusões.

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