quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A ESPIRITUALIDADE DO UNIVERSO SEM AUTOR

A ESPIRITUALIDADE DO UNIVERSO SEM AUTOR Charles Odevan Xavier “Um Deus compreendido não é Deus” Rudolf Otto “Não há dúvida de que a ciência legou ao mundo moderno, por meio de teorias como a mecânica newtoniana e a darwinista (esta, objeto de mal-estar para a Igreja ainda nos tempos atuais), uma visão do universo como algo vazio e sem autor.” Luís Felipe Pondé Este ensaio parte de um paradoxo aparente e quase insolúvel: como espiritualizar um universo que não teve Criador? Como sacralizar um universo que talvez não seja o kosmos dos gregos – a saber: um todo ordenado, harmonioso e cheio de regularidades? Como reagirá o homem moderno ante a angustiante orfandade de um universo vazio e indiferente, segundo o modelo astrofísico de Newton? Pois com a física newtoniana o universo passou a ser uma caixa de areias e pedras que se atraem e se repelem matematicamente. Ainda quando vigorava o modelo aristotélico de descrição do universo podia se ver no universo: a assinatura de Deus. Uma assinatura física mas também moral. Pois a física aristotélica trabalhava com a noção de finalidade e dava um rastro teleológico ao universo da idade média. Assim a “Criação” tinha um objetivo. E isso confortava as pessoas. Contudo com o modelo de Newton algo se quebrou. O universo deixou de ser uma casa onde se manifestava os desígnios de um “Criador” e passou a ser um lugar desolado e frio, regido por leis probabilísticas e fixas, sem lugar para milagres e intervenções sobrenaturais. Embora Newton não fosse ateu, em seu fórum íntimo havia lugar para Deus; já em seu modelo as coisas não passavam a ocorrer pela “vontade de Deus”, mas passavam a se mover sozinhas. A solidão se instaura aí nesse universo contaminando a vida dos homens e mulheres, fazendo-os sentirem-se como pedras que vagam sozinhas pelo universo indiferente. E o que propor neste cenário para torná-lo mais tolerável? Se não podemos transcendentalizar o universo e se só nos resta imanentizá-lo, que tal tentar salvar esse universo pela estética, já que não podemos teologizá-lo? Sim! Mesmo que o universo seja fruto de uma explosão que aconteceu há prováveis 20 milhões de anos atrás (Dicionário Enciclopédio de Astronomia e Astronáutica de Ronaldo R. de F. Mourão), sem nenhum propósito aparente e sem nenhuma assinatura; que tal poetizar as galáxias, os aglomerados, as estrelas, os cometas, os meteoros que nos inspiram otimismo e os crepúsculos penumbrados que nos sugerem melancolia e instrospecção? Eis a minha proposta: se não podemos salvar o universo pela religião, pois o universo não cabe nos domínios da mesma, que tal resgatá-lo pela arte? Mestrando em Letras pela UFC.

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