sábado, 16 de fevereiro de 2013

O CATOLICISMO NA PÓS-MODERNIDADE

O CATOLICISMO NA PÓS-MODERNIDADE Autor: Charles Odevan Xavier Este artigo a despeito do título tem propósitos modestos. Pretende-se analisar o catolicismo no Brasil depois da divulgação dos resultados do Censo do IBGE de 2010. Segundo o pesquisador Faustino Teixeira houve um declínio do número daqueles que se declaram católicos para os recenseadores do IBGE. A despeito da imensa maioria do país ainda se declarar católica, houve nitidamente um decréscimo no número de católicos no país. Os dados apresentados indicam que a proporção de católicos caiu de 73,8% registrados no censo de 2000 para 64,6% nesse último Censo, ou seja, uma queda considerável. Como interpretar esses dados? Trata-se de uma queda que vem ocorrendo de forma mais impressionante desde o censo de 1980, quando então a declaração de crença católica registrava o índice de 89,2%. Daí em diante, a sangria só aumentou: 83,3% em 1991, 73,8 % em 2000 e 64,6% em 2010. O catolicismo continua sendo um “doador universal” de fiéis, ou seja, “o principal celeiro no qual outros credos arregimentam adeptos”, para utilizar a expressão dos antropólogos Paula Montero e Ronaldo de Almeida. E onde a redução católica foi maior no Brasil e em qual lugar o número de católicos permanece igual? A redução católica ocorreu em todas as regiões do país, sendo a queda mais expressiva registrada no Norte, de 71,3% para 60,6%. O estado que apresenta o menor percentual de católicos continua sendo o do Rio de Janeiro, com 45,8% (uma diminuição com respeito ao censo anterior que apontava 57,2%). O estado brasileiro com maior percentual de católicos continua sendo o Piauí, com 85,1% de declarantes (no censo anterior o registro era de 91,4%). Os dados indicam que o Brasil continua tendo uma maioria católica, mas se a tendência apontada nesse último censo continuar a ocorrer teremos em breve uma significativa alteração no campo religioso brasileiro, com impactos importantes em vários campos. E qual segmento religioso cresceu? O novo censo aponta um dado que já era previsível, a continuidade do crescimento evangélico no Brasil. Foi o segmento que mais cresceu segundos os dados agora apresentados: de 15,4% registrado no censo de 2000 para 22,2%. O aumento é bem significativo, em torno de 16 milhões de pessoas. Um olhar sobre os três últimos censos possibilita ver claramente essa irradiação crescente: 6,6% em 1989, 9,0% em 1991, 15,4% em 2000 e 22,2% em 2010. O Brasil vai, assim, se tornando cada vez mais um país de presença evangélica. Há que sublinhar, porém, que a força desse crescimento encontra-se no grupo pentecostal, que é o responsável principal por tal crescimento, compondo 60% dos que se declararam evangélicos (no censo anterior, o peso decisivo no crescimento dos evangélicos, em 15,44% da declaração de crença, foi dado também pelo pentecostais, que sozinhos mantinham 10,43% do índice geral evangélico). Os evangélicos de missão não registram esse crescimento expressivo, firmando-se em 18,5% da declaração de crença evangélica. Qual a surpresa do censo? Os “sem religião”, que no censo de 2000 representavam a terceira maior declaração de crença no Brasil mantiveram o seu crescimento, ainda que em ritmo menor do que o ocorrido na década anterior. Eles eram 7,28% no censo de 2000 e subiram agora para 8% (um índice que comporta mais de 15 milhões de pessoas), e o seu registro mais significativo continua sendo no Sudeste. Esse crescimento não indica, necessariamente, um crescimento do ateísmo, mas uma desfiliação religiosa, um certo desencanto das pessoas com as instituições religiosas tradicionais de afirmação do sentido. Reflete um certo “desencaixe” dos antigos laços, como bem mostrou Antônio Flávio Pierucci em suas pesquisas. Brasil: país católico ou diversificado? Com respeito às outras religiões, permanecem com uma representatividade pequena que em sua soma geral não ultrapassa 3,2% de declaração de crença. Mantém-se viva a provocação feita por Pierucci em artigo escrito depois do censo de 2000 sobre a diversidade religiosa no Brasil, de que o Brasil continua hegemonicamente cristão, e a diversidade religiosa – ainda que em crescimento –, permanece apertada em estreita faixa um pouco acima de 3% da declaração de crença. Com base nos dados do censo agora apresentado, os cristãos configuram 86,8% da declaração de crença. Não há dúvida que isso pode ser problematizado com a questão complexa da múltipla pertença ou então da malha larga do catolicismo, que envolve, como diz Pierre Sanchis a presença de “muitas religiões” em seu interior. No momento em que o Vaticano anuncia a renúncia do Papa, cabe refletir que rumos tomarão o catolicismo no Brasil e no Mundo. Em face do contexto da pós-modernidade que exige tempos pluralistas terá o próximo Papa a marca desses novos tempos? Ou continuará a catolicismo como metanarrativa entre outras (historicismo hegeliano. cientificismo positivista, marxismo) a impor-se como pensamento forte (Gianni Vattimo) sem dialogar com outras tradições religiosas e com matrizes pós-coloniais? Continuará o Vaticano fortemente centralizador a punir iniciativas como a Teologia da Libertação que configurou nas CEB’s uma nova igreja acéfala e horizontal, do qual o Papa Joseph Ratzinger foi paradigma?

OS DOGMAS DA ARTE AFRICANA

OS DOGMAS DA ARTE AFRICANA Autor: Charles Odevan Xavier Este artigo busca refletir se há ou não um cânone artístico no continente africano. Para tanto buscamos analisar fontes como Nei Lopes (Kitábu: o livro do saber e do espírito negro-africanos). Lá o sambista e pesquisador negro reúne os, vamos assim dizer, dogmas da arte africana. Na parte inicial do livro denominada Mooyo há o capítulo XII – A arte e sua finalidade. E só pela forma que o pesquisador intitulou o capítulo, já percebemos muito do espírito da arte africana, pois segundo Nei Lopes a arte teria uma “finalidade”. Sendo assim, a weltanschauung ou cosmovisão africana é teleológica por natureza. Vamos ao primeiro “versículo” do capítulo: “1. A arte deve estar intimamente relacionada à religião. E, assim, obedecer a certos dados constantes, como a assimetria e a desproporção.” Assim, flagramos o estabelecimento de um cânone artístico. Enquanto a arte grega privilegiou a seção áurea, a simetria e a proporcionalidade como ideais de beleza a serem imitados . A arte africana pré-moderna rompe com a estética canônica ocidental. Mas o ocidente, ou melhor, a Europa no século XX foi seduzida pela arte africana, através do trabalho de artistas rebeldes ao academicismo que não conseguiram se desprender da visão de máscaras e fetiches africanos. Muitos pesquisadores afirmam que artistas, como Pablo Picasso e os expressionistas alemães, beberam na fonte da arte africana. Enquanto a arte ocidental é gratuita e tem como parâmetro a beleza, a arte africana, por sua vez, tem caráter utilitário e cultual. Sendo assim, caberia perguntar o trabalho do asogbá – cargo hierárquico no candomblé brasileiro do artesão que faz apetrechos de palha para o orixá Omulu – é arte ou sacerdócio? Na arte africana há uma tendência para o tradicionalismo. Portanto perguntamos: seria uma máscara africana arte ou artefato, posto que as máscaras não tem as marcas singulares do artista que a confeccionou, mas da etnia da qual pertence?